Edgar Moura foi um desenhista do Pasquim, jornal publicado aqui no Rio, no fim dos anos 60. Bom de traço e de significado, o Edgar. Quase menino, não chegou a amadurecer desenhos e legendas, se mandou para artes e ofícios mais importantes. Cinema, iluminação, direção de fotografia, estudos dessas habilidades urbe et orbi. De longe eu o acompanhava. Em nossas profissões, apaixonantes, jornalismo, ciclismo, tiro ao alvo, cinema, roleta russa, todos, mais ou menos, nos acompanhamos. Vi Edgar crescer - inclusive em tamanho, acho que chegou aí a um e noventa - pelas ruas de Paris,
Bruxelas, Michigan, e até Moçambique (até por que, Millôr?), pelo casamento (que inveja!). De repente me telefona por um prefácio para o livro do qual eu nem suspeitava - não suspeitava o escritor no Edgar, ora!,ora!- e que agora está aqui. Se chama "50 ANOS LUZ ". Um calhamaço. Um calhamaço de 500 páginas. Soberbo calhamaço.
Se você gosta alguma coisa de fotografia (não still, a em movimento, de cinema) vai pedir mais. O homem entende do riscado, vai da prática à teoria e volta desta a modos de fazer (não pensem em livrinhos how-to-do, é filosofia de trabalho) com uma elegância e uma precisão de escritor nato. E experimentado. Por tudo perpassa (?) o mais fino humor, em sua forma melhor, a ironia, em sua forma maior - auto ironia. Sem explicitar, Edgar deixa claro que não pretende salvar o mundo com a sua profissão. Nem com seu livro. Acho bom.
Dê uma olhada em qualquer capítulo. Comece pelas Janelas de Vermeer. Como você não vai parar, logo ficará encantado em saber o que é a Natureza da luz e onde está sua Origem - o homem leu tudo sobre o assunto e aqui entra, acho, até Goethe - o que é uma Luz Dura, um Corpo Negro, um Contraluz Difuso, o Tripé (iluminado) da Criação. E por aí vão 40 capítulos de visão criativa sobre a admirável realidade que nos cerca, mas que, Edgar me convence, pode ser muito melhor iluminada. Afinal de contas o fiat lux foi só um improviso.
Millôr Fernandes
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